Foto: Divulgação/MP

Ministério Público busca identificar suspeitos de pagar por falsos levantamentos...

A empresa de pesquisa IPOP – Cidades & Negócios foi alvo da Operação Leão de Nemeia, deflagrada ontem, que investiga fraudes em levantamentos eleitorais, com o objetivo de beneficiar candidatos. De acordo com o Ministério Público Eleitoral, o proprietário Márcio Rogério Pereira Gomes cobrava dinheiro de prefeitáveis para divulgar pesquisas falsas em que esses postulantes apareceriam na liderança. Ele realizou 349 pesquisas em 191 municípios de Goiás em 2020. Os promotores agora buscam identificar os candidatos contratantes, que podem ter as candidaturas impugnadas e, se condenados e eleitos, podem ter o mandato cassado.

A operação deflagrada ontem teve o objetivo, segundo Douglas Chegury, que é um dos promotores responsáveis, de buscar provas das fraudes que possam levar à tomada de medidas ainda mais duras. Foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão expedidos pelo Juiz Eleitoral da comarca de Alvorada do Norte, no Nordeste goiano, Pedro Henrique Guarda Dias, nos municípios de Goiânia e Aparecida de Goiânia, na sede da empresa, e nas residências de Márcio e da estatística Karen Cristina Alves Pessoa.

O promotor conta que a investigação começou a partir de uma denúncia feita por um candidato de Pontalina. Ao Ministério Público de Goiás, o postulante contou que a empresa ofereceu a pesquisa com o nome dele despontando na frente em troca de R$ 6 mil. O prefeitável disse que não aceitou e o proprietário chegou a fazer uma contraproposta, reduzindo o preço para R$ 3 mil e “mais algumas cestas básicas”. Foi quando o candidato decidiu denunciar.

A partir disso, o MP reparou que, em mais de 30 zonas eleitorais no Estado, o instituto vinha tendo suas pesquisas impugnadas. “E em muitos casos com decisão judicial determinando a suspensão, porque não obedecia requisitos rigorosos da lei eleitoral, como o mapa de pesquisa”, conta Chegury. O promotor disse que em muitos dos levantamentos, o instituto inventava os bairros.

No pacote de serviços oferecidos por Márcio, conta o promotor, estava a divulgação da pesquisa no jornal Cidades & Negócios, do qual também é dono. O promotor eleitoral Lucas César Costa Ferreira destaca que nas impressões desse jornal, cerca de 70% das publicações eram divulgações de resultados de pesquisa. O resto era destinado a propaganda de negócios locais. Em uma só edição, por exemplo, ele chegou a publicar o resultado de 129 pesquisas eleitorais.

Outro ponto que levou o Ministério Público à investigação foi o fato de que, apesar de estarem registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nenhuma das pesquisas possui contratante. É como se todos os quase 350 levantamentos tivessem sido bancados somente pela IPOP. O problema, segundo Chegury, é que cada uma custa em torno de R$ 2 mil. Isso significa que Márcio teria, supostamente, arcado com cerca de R$ 700 mil. Ao mesmo tempo, o capital registrado pela empresa era de R$ 150 mil, quase um quinto do total que eles alegam terem investido de bolso próprio.

São Paulo

Apesar da empresa ter data de criação recente, a atuação de Márcio no ramo é antiga. Em 2016, ele atuou da mesma forma em mais de 100 municípios do Estado de São Paulo, valendo-se de uma outra empresa criada por ele à época para produzir e divulgar pesquisas fraudadas (Márcio Rogério Pereira Gomes-ME/ Jornal Folha da Região Norte Paulista).

Lá ele também foi alvo de denúncias e chegou a ser condenado por crime eleitoral e ao pagamento de multa em diversos processos. “Inclusive ele está com os direitos políticos suspensos”, diz Chegury. O promotor acrescenta que ainda há um processo de extorsão contra ele, que corre em São Paulo. Mas isso não o impediu de vir para Goiás no próximo pleito municipal.

Mandados

Com esses fatos e indícios em mãos, os promotores, então, pediram não só a autorização para fazer os mandados de busca e apreensão, coordenados em parceria com a Delegacia Estadual de Combate à Corrupção, como a quebra dos sigilos bancário e de dados telefônicos. Todos concedidos pelo juiz eleitoral. “É a partir dessas informações que vamos identificar os contatos com os contratantes e chegar aos nomes dos candidatos envolvidos no esquema”, explicou.

Durante as buscas, os promotores contaram que localizaram, em um dos computadores, uma planilha onde consta uma coluna de “parceiros”, outra com os respectivos municípios, e outra com a informação “negociação”. Os integrantes do MP-GO apontam que é nesse arquivo que estão os nomes dos candidatos que contrataram a pesquisa fraudulenta.

De acordo com Chegury, agora o MP Eleitoral vai analisar todo o material apreendido para seguir com a responsabilização da empresa e dos contratantes. Para o promotor, a apuração do caso foi muito intuitiva. “Porque nós sabemos que nenhum almoço é de graça. O sujeito fazer 350 pesquisas em 191 municípios, e não declarar a despesa que teve, por quê?”.

O promotor Lucas destacou a gravidade desse tipo de ação pela influência que essas pesquisas têm no processo eleitoral. Ele disse que os promotores em todo o País receberam orientação para ficarem atentos a essas pesquisas, porque, segundo ele, houve um aumento expressivo nessas empresas, muitas vezes com o intuito de intervir nas campanhas.

Irregularidades

Além das fraudes, os promotores relatam que as pesquisas feitas pelo IPOP apresentavam irregularidades como o descumprimento de requisitos estabelecidos pela lei eleitoral e, em alguns casos, a invenção de nomes de bairros visitados pelos pesquisadores. “Isso aconteceu em Vianópolis, por exemplo, em que colocaram o nome de um trevo como sendo de um bairro”, contou Chegury.

Ainda de acordo com o promotor, Márcio apresentou endereços que não são dele. Isso foi constatado quando as equipes foram fazer as buscas ontem. Um era, na verdade, de uma funcionária e o outro, que seria da empresa, tratava-se de uma casa abandonada. “Fizemos o contato com ele, e ele disse que mandaria o advogado. Ou seja, é próprio do perfil do estelionatário mesmo, o cara que apronta e não aparece”, finalizou o promotor.

Márcio chegou a atender à ligação da reportagem, mas informou que não poderia falar. A estatística Karen também não quis comentar sobre os mandados.

Fonte: O Popular
Foto: Divulgação/MP
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