22 de dezembro de 2024
chuva
Precipitação nestes municípios pode chegar a até 500 milímetros. Outros 56 podem receber 250 mm de chuvas. Defesa Civil implantou sete postos para dar socorro a estas localidades afetadas por tempestades

Ainda sob a influência do fenômeno La Niña, o Centro-Norte de Goiás se prepara para novos períodos de chuvas torrenciais, a exemplo do que ocorreu no fim de 2021 e início deste ano. O Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), prevê mais de 500 milímetros (mm) de precipitação em 14 municípios a partir deste mês de dezembro, podendo chegar a janeiro e fevereiro de 2023. Outros 56 municípios podem receber 250 mm de chuvas.

A Defesa Civil Estadual, que junto com o Gabinete de Políticas Sociais (GPS) do Governo de Goiás coordena a Operação Nordeste Solidário, o plano de contingência para atender as localidades que apresentam maior risco de danos, já instalou sete postos de comando em cidades que favorecem o deslocamento. Cinco deles foram montados em quartéis do Corpo de Bombeiros Militar – Ceres, Uruaçu, Formosa, Posse e Campos Belos – e outros dois em Flores de Goiás e Teresina de Goiás. Para esses postos já foram levados colchões, cobertores, filtros de barro, hipoclorito de sódio. Cestas básicas chegam esta semana.

Chefe do Departamento de Respostas de Dados da Defesa Civil Estadual, o capitão CB Marcelo Martins Moura explica que a Operação Nordeste Solidário prevê ações prioritárias para os 14 municípios que podem receber maiores índices de chuvas, conforme previsão do Cimehgo, mas as outras 56 localidades também estão no foco do plano. “Temos equipes viajando, orientando prefeitos para que identifiquem populações mais vulneráveis e criem suas próprias unidades de Defesa Civil. Ela é importante para que cada município reconheça a sua vulnerabilidade e tenha competência legal para buscar recursos em âmbito federal em caso de emergência.”

O plano de contingência nasceu em meados deste ano quando o Cimehgo detectou, por meio dos modelos climatológicos, a possibilidade de repetição das fortes chuvas na região Centro-Norte. Durante 85 dias, a partir de dezembro de 2021, 122 integrantes do CB atuaram em localidades, especialmente do Nordeste do estado, caracterizada por terrenos acidentados, estradas sem pavimentação e muitas comunidades rurais. Em Flores de Goiás, por exemplo, os 21 assentamentos rurais sofreram muito com as enchentes que provocaram isolamento e perdas da produção.

A expectativa é que o plano de contingência, que envolve 17 pastas do governo estadual, minimize os danos e agilize as ações. Os postos de comando para o período chuvoso estão em localidades de onde será possível deslocar com rapidez para qualquer um dos 70 municípios que estão sob alerta.

André Amorim, gerente do Cimehgo, reforça que por causa do La Niña, há uma tendência de as chuvas se concentrarem novamente nas regiões Norte e Nordeste do estado. Em novembro, as previsões se confirmaram. “Tivemos duas chuvas de mais de 100 mm em Porangatu. Em Minaçu, em um único dia choveu mais de 150 mm. Também houve uma chuva volumosa no município de Cavalcante, atingindo regiões da comunidade calunga. As pessoas ficaram assustadas, mas a Defesa Civil está mais próxima e os bombeiros militares em alerta.”

Pelas previsões, o mesmo deve ocorrer em dezembro. “No ano passado foi muito ruim porque não havia um plano de contingência. A diferença agora é que todos estão avisados e há uma preparação para que as ações sejam mais rápidas.” De acordo com Amorim, os modelos de previsão meteorológica apontam para chuvas intensas também em janeiro e fevereiro.

Levantamento feito pela Defesa Civil Estadual demonstra que os prejuízos nos 23 municípios, que foram afetados pelas fortes chuvas na última temporada e declararam situação de emergência, somaram a quantia de R$ 64.557 milhões. Mas este valor pode ser ainda maior visto que algumas administrações não registraram as informações no Sistema de Informações de Desastre (SID), da Defesa Civil Nacional, como é o caso de Alto Paraíso, Posse, Colinas do Sul, Minaçu e Iaciara.

As chuvas do fim do ano passado e início deste ano afetaram 19,2 mil pessoas, segundo a Defesa Civil Estadual. Cavalcante, que reúne uma grande comunidade quilombola, cujos integrantes vivem em localidades distantes umas das outras, foi um dos mais atingidos. Mais de 3,8 mil pessoas sofreram consequências em razão dos temporais. Monte Alegre, que também abriga parte da comunidade calunga, teve 2,4 mil pessoas afetadas.

La Nina permanece até fevereiro

E o responsável por toda essa dor de cabeça, o fenômeno climático La Niña, deve continuar afetando os padrões de temperatura e precipitação até fevereiro ou março de 2023. É o que prevê a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o braço meteorológico da Organização das Nações Unidas. É a primeira vez neste século que o La Nina dura três verões consecutivos  no hemisfério sul.

O La Niña é caracterizado pelo resfriamento anormal das águas do oceano Pacífico Equatorial, que ficam em torno de  2 °C e 4 °C durante a sua vigência. Seus efeitos são variados, podendo produzir secas no sul do Brasil, na Argentina e no Uruguai e, principalmente na África Oriental; e chuvas torrenciais no Nordeste brasileiro, no norte da Austrália e no sudeste da Ásia. Alguns países como China, Índia, Japão e Canadá são afetados por temperaturas mais baixas do que o esperado.

O fenômeno, segundo a OMM, ocorre de tempos em tempos, podendo se dar em intervalos variáveis que vão de dois a sete anos. O evento, que em espanhol significa A Menina, recebeu a denominação numa alusão contrária ao fenômeno El Niño, que provoca o aquecimento anormal das águas do Pacífico.

O oceano Pacífico tropical está sob influência do La Niña, com curtas interrupções, desde setembro de 2020, mas isso teve apenas um efeito de resfriamento limitado nas temperaturas globais. Para a OMM, esse fenômeno ocorre em um contexto de mudança climática causada pela ação humana, o que aumenta as temperaturas globais, tornando nosso clima mais extremo e afetando os padrões sazonais de precipitação, aumentando secas e inundações.

Em Goiânia há 11 pontos de alagamentos considerados prioritários  

Embora Goiânia não esteja entre os municípios listados entre os 70 que deverão receber um maior volume de chuvas, a Defesa Civil da capital está em alerta principalmente para os quase 90 pontos de alagamentos, 11 deles mais problemáticos. Pelo menos em dois há ocupação irregular. “Nesses locais considerados prioritários fizemos intervenções como a limpeza dos ramais (bocas de lobo) e da tubulação, e levantamento para um escoamento mais eficiente e definitivo, ou seja, um sistema de drenagem mais duradouro”,  explica Anderson Marcos de Souza, coordenador operacional da Defesa Civil.

Ele detalha que, por causa do La Nina, as chuvas chegam em forma de tempestade no Centro-Oeste, com rajadas de ventos que atingem 100 km por hora. “O que tivemos até agora foi mais vento do que água”, enfatiza, lembrando que no mapeamento de risco a queda de árvores sob edificações também preocupa. A cada dois meses a Defesa Civil atualiza o cadastro de famílias que vivem condições de vulnerabilidade para que sejam atendidas mais rapidamente.

Anderson de Souza lembra que a população pode e deve fazer a sua parte para que os problemas provocados por chuvas mais fortes sejam minimizados. “Resíduos domésticos, como garrafas pet e sacolas, precisam ser acomodados em locais mais altos para não serem levados pela enxurrada para o sistema de drenagem. As pessoas precisam se conscientizar disso.”

A ocupação irregular de áreas é um sério problema. Anderson de Souza explica que até o ano passado 14 casas da Vila Fernandes, às margens do Ribeirão Anicuns, perto do Setor Gentil Meirelles, eram afetadas por inundações, com a água chegando a 1,5 m. “Ali é área alagável que nunca deveria ter sido ocupada, é o que chamamos de cota de inundação.” A grande maioria das famílias deixou o local após cadastro na prefeitura, apenas uma resiste. “Não é a água que invade as casas. As casas é que estão em local inadequado.”

Pontos monitorados

Goiânia possui quase 90 pontos que oferecem risco de alagamento. Veja os 11 que mais chamam a atenção e estão sendo monitorados

1.  Rua Nonato Mota que liga a Vila Redenção ao Setor Pedro Ludovico
2. Rua 87, Setor Sul
3. Av Gercina Borges Teixeira, Conjunto Vera Cruz
4. Rua da Divisa, Setor Jaó
5. Av C-107, Jardim América
6. Av Feira de Santana, Parque Amazonas
7. Av Perimetral Norte, em frente ao Shopping Passeio das Águas
8. Rua das Mangueiras, Bairro Feliz
9. Rua Angelina, Conjunto Caiçara
10. Avenida Lincoln – Jardim Novo Mundo
11. Rua SP-16 – Setor Perim

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