“1 Patrão vs 30 Demitidos”: Vamos falar sobre esse debate?

“1 Patrão vs 30 Demitidos”: Vamos falar sobre esse debate?
Foto: Arquivo Pessoal

O programa exibido no YouTube — “1 Patrão vs 30 Demitidos” — não foi apenas um reality-show inusitado. Foi um espelho. Um reflexo, ainda que desconfortável, das tensões que atravessam o mercado de trabalho atual: o choque entre expectativas empresariais e a percepção de quem está na ponta da operação. De um lado, o empresário Tallis Gomes, empreendedor que construiu sua trajetória com base em esforço, lucidez financeira e foco em resultados. Do outro, trabalhadores que trazem na bagagem demissões recentes, insegurança emocional, falta de reconhecimento — e, sobretudo, ausência de diálogo.

O que se viu não foi um embate entre bem e mal. Foi o retrato de um descompasso que precisa ser debatido com mais profundidade e menos superficialidade.

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EMPRESA NÃO É ONG! O QUE VOCÊ ACHA DESSA AFIRMAÇÃO?

É evidente que uma empresa existe para gerar lucro. O lucro é o que sustenta a folha, os tributos, os investimentos e a inovação. Empresários como Tallis, que empreendem com responsabilidade fiscal e criam empregos formais num país marcado por informalidade e burocracia, precisam ser reconhecidos pelo papel social que cumprem. São eles que — na prática — movimentam a economia real.

Mas entre gerar resultados e extrair performance a qualquer custo há uma linha tênue, que muitas vezes é ultrapassada em nome de uma meritocracia mal compreendida. A ideia de “quem entrega, fica” não é, por si só, injusta. Injusto é exigir entrega sem fornecer condições, sem escutar, sem orientar. Meritocracia só faz sentido quando existe igualdade de oportunidades e uma liderança que sabe desenvolver talentos — e não apenas descartá-los.

O QUE DIZER DA GERAÇÃO Z NO AMBIENTE DE TRABALHO?

Tallis apontou um problema real: há, de fato, jovens que entram no mercado com expectativas desalinhadas da realidade, que desejam crescer rápido sem passar pelos degraus necessários. Isso existe — e precisa ser trabalhado com franqueza.

Mas é um erro crasso reduzir toda uma geração a esse estereótipo. A Geração Z cresceu num mundo hiperconectado, sob constante cobrança por desempenho e perfeição. É a geração que convive com ansiedade desde a adolescência e que, justamente por isso, não aceita mais naturalizar o sofrimento no trabalho como “parte do pacote”.

Eles querem ser produtivos, sim. Mas querem também ser respeitados, compreendidos e tratados como seres humanos — não como números de um Excel. Muitos ainda não sabem comunicar suas demandas de forma madura. Mas muitos líderes também não sabem ouvir sem reatividade. É uma via de mão dupla.

DEMITIR NÃO É “CORRIGIR ROTA” — É, MUITAS VEZES, ROMPER COM O QUE PODERIA TER SIDO EVITADO.

Demitir faz parte da rotina de qualquer negócio. E, quando necessário, deve ser feito com clareza, responsabilidade e respeito. Mas transformar toda demissão em um “feedback do mercado” é, no mínimo, insensível. Nem toda saída é por falta de competência. Às vezes, é pela ausência de sentido, de cuidado, de alinhamento de valores.

A liderança moderna precisa ir além da frieza dos indicadores. Precisa entender que performance é construída — e que pessoas são sensíveis a ambiente, cultura e relações. Cobrar metas sem criar contexto, pressionar sem ouvir, excluir sem orientar… tudo isso corrói o capital humano que sustenta o negócio.

A LIDERANÇA QUE CONSTRÓI É A QUE ESCUTA, CORRIGE E INSPIRA.

Comunicação não violenta não é “afrouxar a gestão”. É profissionalizar a forma como lidamos com gente. Feedback não precisa ser ríspido para ser eficaz. E demissão não precisa ser traumática para ser necessária.

Treinar líderes para desenvolver pessoas — e não apenas cobrar resultados — é o que diferencia empresas que crescem com consistência daquelas que vivem em ciclo eterno de contratações, adoecimentos e rotatividade.

Empresários honestos, que investem, pagam impostos, mantêm empregos formais e criam oportunidades reais de crescimento para quem veste a camisa da empresa, merecem, sim, ser valorizados. Mas isso não os exime de evoluir no jeito de liderar. Porque quem constrói negócios de verdade sabe: o ativo mais importante de qualquer organização é o humano.

NÃO É SOBRE “MIMIMI”. É SOBRE MATURIDADE EMPRESARIAL.

O Brasil ainda precisa amadurecer muito no trato com o trabalho. Enquanto houver a ideia de que um funcionário é bom apenas quando “aguenta calado”, seguiremos produzindo sofrimento — e perdendo talentos.

O programa escancarou esse abismo. E que bom que escancarou. Porque só com confronto de ideias se promove evolução. A solução não está em radicalismos nem em apontar culpados. Está em criar ambientes onde empresários e trabalhadores não se enfrentam, mas constroem juntos.

Porque no fim das contas, seja você CEO ou estagiário, ninguém performa bem num ambiente em que se sente descartável.

Sebastião Barbosa Gomes Neto — OAB/GO 50.000
Graduado em Direito pela Universidade Federal de Goiás
Pós-graduado em Direito Tributário pelo IBET/GO
Pós-graduado em Direito do Trabalho e Previdenciário pela PUC/MG
Negociador
sebastiaogomesneto.adv.br

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Redação Portal PaNoRaMa

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