Com o fim das eleições municipais no Brasil e da corrida presidencial nos Estados Unidos, que acabou com a eleição de Donald Trump, finalmente os ares da época de fim de ano começam a ser sentidos.
Além das lojas de natal já abertas, decorações nos shoppings e outros espaços públicos e panetones enchendo as prateleiras, outros pontos comuns desse período também se aproximam, como o recebimento do 13° salário, as compras de presentes e a preparação para pagar as tradicionais contas de começo do ano (IPVA, IPTU e mensalidade escolar, por exemplo).
Antes que essas contas comecem a chegar, especialistas concordam que essa é uma boa época para fazer uma fotografia de como foi a vida financeira ao longo do ano que está acabando, para que seja possível corrigir as rotas e traçar as metas para o próximo.
A melhor forma de fazer isso, segundo o educador financeiro Thiago Godoy, é com um balanço financeiro de 2024 e o planejamento de um orçamento para 2025.
Ele foi o convidado do primeiro episódio da nova temporada do podcast Educação Financeira, que fala sobre como organizar as contas ainda neste ano para começar o próximo com o pé direito.
Veja a íntegra da entrevista ou os principais cortes da conversa mais abaixo:
Nesta reportagem você vai entender:
- Como o extrato bancário pode ser um primeiro passo importante para melhorar a vida financeira
- A metodologia das caixas e torneiras para analisar o uso do dinheiro
- Como montar um bom orçamento para 2025
- Como definir metas pequenas para realizar grandes sonhos
- Formas para manter a motivação mesmo quando deslizes acontecem
Tirando um extrato bancário
A forma mais eficiente e rápida de entender como anda a vida financeira é tirar um extrato da conta bancária, segundo Thiago Godoy.
Isso pode ser feito dentro do aplicativo ou internet banking de qualquer instituição financeira, selecionando o período desejado (neste caso, o ideal é consultar todo o ano de 2024) e o extrato é gerado na hora. O documento vai mostrar tudo o que entrou na conta e tudo o que saiu, detalhando quanto foi gasto com cada serviço ou produto consumido ao longo do ano.
Godoy comenta que, embora a atitude seja muito simples, as pessoas podem ter certa resistência de fazer essa “foto” da sua vida financeira, justamente porque ela pode mostrar uma realidade difícil de encarar.
“Por mais que possa ser doloroso encarar as finanças, na prática tira um peso muito grande e te dá condições de analisar com mais clareza, com mais tranquilidade para poder tomar decisões e eliminar as coisas que estão te fazendo mal”, diz.
O especialista ainda pontua que ter esse olhar atencioso para o extrato do ano pode servir para esclarecer a visão que se tem sobre as contas pessoais.
“Muitas vezes a gente está ansioso porque acha que a nossa vida está um caos, mas, na verdade, você vai ver e nem está tão caótico assim e o problema nem é tão ruim. Ou você está ‘de boa’ e não está vendo o quanto sua vida financeira está desorganizada”, explica.
Caixas e torneiras
Com o extrato em mãos, o próximo passo é analisar com maior profundidade quais foram os ganhos e gastos daquele ano. Para isso, Godoy indica o método das “caixas e torneiras”.
As “caixas” são representações de áreas da vida em que o dinheiro está presente — ou deveria estar: trabalho (que engloba tudo o que gera renda), emergência (uma reserva para situações adversas), sonhos (uma espécie de poupança para realizar grandes objetivos) e futuro (para questões de longo prazo, como a aposentadoria).
Já as “torneiras” representam os gastos do mês e também são divididas em quatro tipos: necessidades vitais, necessidades importantes, desejos importantes e desejos supérfluos.
Godoy explica que todo o dinheiro recebido no mês vai, primeiro, para a caixa do trabalho e, a partir daí, precisa ser direcionado para as torneiras e as caixas.
Em um mundo ideal, parte do dinheiro é usado para pagar as necessidades vitais e importantes, parte para abastecer cada uma das outras “caixas” e uma quantia separada para os desejos importantes. Aquilo que é supérfluo, então, deve estar em último lugar na lista de gastos.
Com base nesse método, é possível classificar quais foram os gastos ao longo do ano, separando as necessidades dos desejos mais importantes e das coisas supérfluas, além de quanto foi colocado nas outras caixas.
Essa é uma análise pessoal, já que cada um tem suas próprias referências e pode ter visões diferentes sobre o que é importante e o que é supérfluo. Porém, ao olhar com atenção para o quanto é gasto com coisas que não são necessárias ou importantes, fica mais fácil identificar quais são os hábitos prejudiciais para a vida financeira.
Orçamento para o próximo ano
O primeiro passo para definir um bom orçamento para o próximo ano é ter dimensão de qual será o rendimento mensal, seja individual ou familiar.
Para quem trabalha com carteira assinada é mais fácil: basta considerar o salário mensal. Já para os profissionais autônomos ou empreendedores, essa missão costuma ser mais difícil, uma vez que as receitas podem variar de um mês para o outro.
Para esses casos, Thiago Godoy indica uma fórmula:
- Pegar todo o rendimento mensal dos últimos 12 meses;
- Descontar os dois meses que tiveram os maiores faturamentos;
- Com os 10 meses restantes, somar todo o valor e dividir por 10.
O resultado desse cálculo, explica o especialista, deve ser considerado como o rendimento mensal do profissional. Assim, nos meses em que o faturamento for maior, uma parte deve ser destinada para a reserva do mês em que o rendimento for menor que a média.
Tendo conhecimento da renda mensal, seja com um salário fixo ou com o valor médio, Godoy recomenda o uso do método das caixas e torneiras também para definir o quanto pode ser gasto no futuro.
A ideia, então, é calcular e definir quanto será gasto com cada uma das torneiras das necessidades e desejos e quanto será destinado para cada uma das caixas.
Para que o dinheiro seja melhor aproveitado, Godoy recomenda que essa análise do orçamento seja feita em uma ordem que priorize as caixas antes das torneiras dos desejos.
1 – As necessidades, principalmente as vitais, são consideras primeiro justamente por serem importantes para a sobrevivência e uma boa qualidade de vida.
Ainda assim, Godoy orienta a tentar reduzir o consumo dentro do que for possível, como a energia elétrica e água usada no mês, o que pode pesar menos na conta de luz e água, e o que é comprado nas despesas de supermercado.
Essas economias tendem a liberar um espaço, mesmo que pequeno, no orçamento. E o dinheiro economizado pode ser direcionado para a caixa da reserva para emergências e dos sonhos, por exemplo.
2 – Com as contas essenciais já englobadas no orçamento, o próximo passo é definir quanto é possível destinar para as outras caixas.
A caixa da emergência, idealmente, deve ser abastecida todo mês, mesmo que com pouco.
“Em um momento de emergência, qualquer dinheiro que você tiver guardado te ajuda a não precisar contrair uma dívida tão grande”, explica Godoy.
A dos sonhos também pode ser abastecida todo mês, mas antes é importante desenhar bem as metas. Um grande objetivo pode demorar a ser realizado, como a compra de uma casa ou uma viagem internacional, por exemplo. Então, a motivação para guardar dinheiro para realizar esses sonhos pode diminuir com o passar do tempo.
Uma alternativa é dividir o grande objetivo em pequenas metas mais alcançáveis — no caso da compra de uma casa, algo como economizar um determinado valor que seria o equivalente a mobiliar a cozinha. Esse desmembramento pode ajudar a não perder o foco.
Também é importante colocar um pouco na caixa do futuro, pensando na tranquilidade para a época da aposentadoria. Mas isso pode ser feito de forma mais devagar, até que a pessoa consiga adquirir o hábito.
3 – Por fim, o valor que sobrar no orçamento depois de separadas essas reservas pode ser direcionado para a realização dos desejos, priorizando o que é mais importante para cada um em vez do supérfluo, que pode gerar arrependimentos.
Mesmo gastos que são esporádicos, mas inegociáveis para alguém durante um ano — como uma viagem para a praia, um presente de aniversário para alguém especial ou a compra de ovos de Páscoa para as crianças, por exemplo — devem entrar no orçamento.
Ao olhar para 2025, vale anotar todas essas despesas que já são previstas e colocar um limite do valor a ser gasto em cada compra. Isso também pode liberar um espaço valioso para a realização de outros sonhos.
Por Bruna Miato, g1
Foto: Pixabay
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