Foi acompanhando uma transmissão ao vivo do Portal Panorama que Sarah Fernandes tomou uma decisão que se tornaria crucial no resgate do pequeno Miguel. A cerca de 470 km de distância, na cidade de Goiás, ela assistia à cobertura da busca pelo menino e percebeu o desafio enfrentado pelos voluntários que se embrenhavam na lavoura de milho. A experiência do casal no controle de javalis a fez entender os riscos do local, e algo dentro dela disse que precisava agir. Sem hesitar, ligou para seu marido, o Professor Dr. Marcos Antônio Viu, que dormia em casa, em Jataí.
“Naquele momento, senti algo muito forte, liguei para ele e pedi que chamasse os amigos que têm experiência para ajudar na busca”, conta Sarah. Do outro lado da linha, Marcos Viu acordou e, sem pestanejar, garantiu: “Eu vou e vou encontrar o Miguel”.
O resgate aconteceu na madrugada, mas exigiu preparação. “Esperei cerca de 40 minutos para carregar os rádios comunicadores, enquanto separava lanterna, proteção contra cobras e outros itens”, relata o professor. No local, conversou com os bombeiros sobre a divisão das equipes e decidiu seguir por um caminho diferente, margeando um riacho e atravessando uma área de mata. Foi ali que ouviu, pela primeira vez, uma voz infantil chamando por “papai”.
“No primeiro momento, achei que estava ouvindo coisas, pois disseram que Miguel era um autista não verbal. Mas ao escutar novamente, segui na direção da voz, clareando o milho com a lanterna. Quando vi a cabecinha dele, falei: Miguel, vou te levar para o seu papai”, relembra Marcos.
O menino, molhado e tremendo de frio, esperou calmamente. O professor o cobriu com sua capa e iniciou o retorno. A cada 100 metros, tentava comunicação pelo rádio. Depois de algumas tentativas, Mateus Silvestrini Cordeiro, que auxiliava na operação, captou a mensagem: “Achei a criança, preciso de ajuda”.
A emoção do resgate se refletiu em Sarah, que dormira após a ligação e acordou horas depois com uma mensagem curta do marido: “Deus me guiou, Deus me abençoou mais uma vez e eu consegui”. Ela lembra com gratidão do momento: “Foi muito gratificante. Na hora, nem acreditei. Deus tocou nossos corações. E saber que essa história teve um final feliz é emocionante”.
Para Marcos Viu, não há dúvida sobre o que aconteceu naquela noite. “Deus me usou como instrumento. O que Ele escreve, o homem não apaga. Tenho certeza de que muitas coisas boas ainda estão reservadas para Miguel”.
