
Mesmo se o ciclo não for um reloginho, a maioria das mulheres sabe quando esperar pela menstruação; as irregularidades se tornam familiares, com algum padrão que a dona do corpo assimila. Por isso, quando ocorre um atraso maior que o normal – algo que pode variar de alguns dias a até mais de um mês –, é comum rolar uma preocupação. Principalmente se houver a certeza de que não existe uma gravidez envolvida.
A isso se dá o nome de amenorreia secundária: quando a mulher de ciclos regulares fica até três meses sem menstruar e a que está acostumada com irregularidade vê esse intervalo aumentar para até seis meses. Se passar disso, provavelmente se trata de algo que precise de investigação médica mais profunda, o que deve ser feito inicialmente pelo ginecologista.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Conversamos com Adriana Campaner (ginecologista especialista em Saúde da Mulher do Alta Excelência Diagnóstica), Myrna Campagnoli (endocrinologista do Salomão Zoppi Diagnósticos) e Jurandir Passos (ginecologista e obstetra especialista em Medicina Fetal do Delboni Auriemo), que explicaram os principais motivos que levam à amenorreia secundária.
Ah, antes de partirmos para a lista, vale esclarecer que amenorreia primária é o problema que acomete mulheres que nunca menstruaram e não conseguem menstruar. Mas isso é outro assunto.
CAUSAS DO ATRASO MENSTRUAL
Disfunções na tireoide
O hipertireoidismo e o hipotireoidismo causam alterações na menstruação.
O primeiro caso é mais raro e se deve à produção excessiva dos hormônios tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3).
Já no segundo, mais comum, a mudança ocorre porque há uma no T4 e no T3 e é acionada a produção do hormônio TSH, regulador dos níveis deles dois. O caso é que quase 90% da molécula do TSH é igual à molécula do FSH, hormônio que controla o ciclo menstrual. A alta produção repentina do TSH atrapalha a dinâmica da menstruação por ser confundido pelo organismo com o FSH – é como se ele substituísse o FSH, porém sem cumprir sua função em relação à menstruação.
Ovários policísticos e síndrome dos ovários policísticos
São duas condições que têm em comum, além dos nomes muito parecidos, alguns pontos: a presença de cistos nos ovários e as falhas na menstruação. Entenda aqui as características e as diferenças entre elas:
Menopausa precoce
Algumas mulheres entram no processo da menopausa antes dos 40 anos. Isso significa que seus ovários produzirão muito menos estrogênio, porque não há mais óvulos neles. O sinal de que isso está acontecendo é a alta presença de FSH – aquele hormônio de que falamos anteriormente, que controla o ciclo menstrual. O cérebro vai mandando FSH para os ovários e eles não respondem, o que causa o acúmulo do hormônio no organismo, detectado por meio de exame de sangue.
Produção de prolactina
A prolactina é o hormônio que auxilia na produção de leite durante a amamentação, e ele causa a interrupção da menstruação – por isso é comum as recém-mães não menstruarem nos seis meses depois do parto.
Porém, se a mulher não estiver amamentando, a produção desse hormônio pode estar relacionada à hiperprolactinemia (relacionada a um tumor benigno na hipófise, que pode ser eliminado com a administração de medicamentos).
Uso incorreto da pílula anticoncepcional
Muitas vezes, ao tomar a pílula anticoncepcional de forma diferente da receitada – o mais comum é emendar uma cartela na outra para evitar a menstruação de vez em quando, por qualquer motivo que seja –, a mulher causa uma diminuição progressiva do material que reveste o útero mensalmente (e que resulta na menstruação). A cada mês, aquele material que deveria crescer vai atrofiando, e pode chegar um ponto em que não tenha mais nada para ser liberado. Resultado: não há menstruação.
Uso de antidepressivos e anticonvulsivantes
Alguns desses medicamentos aumentam a produção de prolactina, cuja dinâmica foi explicada aqui em cima. Um ajuste nas dosagens ou uma troca nos remédios costuma ser suficiente para regularizar a situação.
Fadiga mental ou física e doenças autoimunes
Nos três casos, há uma elevação na produção do cortisol, hormônio que responde às situações de estresse e que interrompe ou bloqueia a produção do hormônio FSH (aquele que regula o ciclo menstrual).
Tratamentos quimioterápicos
A quimioterapia pode causar uma perda de função ovariana (ou seja, uma diminuição no número de óvulos) que leva à menopausa precoce. Isso vale inclusive para mulheres que tenham passado por esse tratamento na infância.
Excesso de exercícios físicos
As atividades físicas estimulam a produção de endorfina, o que é uma delícia – a endorfina é considerada o hormônio do bem-estar. Porém, em excesso, ela pode afetar o FSH e causar interrupções na menstruação.
Anemia
Nosso organismo é muito inteligente. Em casos de anemia, há uma queda brusca na presença de ferro no sangue; o corpo percebe isso e passa a mensagem ao cérebro. Ele, por sua vez, atua no sentido de interromper o ciclo menstrual, para evitar que haja mais perda de sangue e, consequentemente, de ferro. Tratando a anemia, a menstruação tende a voltar ao normal.
Por Raquel Drehmer
Foto Capa: Internet
Jornalismo Portal Panorama
panorama.not.br