
A decisão do presidente norte-americano Donald Trump de aplicar uma tarifa extra de 50% sobre produtos agropecuários brasileiros provocou um abalo imediato no agronegócio nacional — especialmente em Goiás e Mato Grosso do Sul, dois gigantes da exportação de carne bovina.
Em solo sul-mato-grossense, o impacto já é concreto: quatro frigoríficos suspenderam temporariamente a produção destinada ao mercado norte-americano. A informação foi confirmada nesta terça-feira (15) pelo secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento, Jaime Verruck, que classificou a medida como “preocupante e potencialmente danosa à economia regional”.
A carne bovina desossada e congelada é o carro-chefe das exportações de Mato Grosso do Sul em 2025, representando 45,2% do total vendido ao exterior. Mesmo que os EUA respondam por apenas 7% das exportações gerais do estado, eles concentram 15% da carne bovina exportada — um mercado considerado nobre e de alto valor agregado.
“Estamos suspendendo os abates destinados ao mercado americano. Os frigoríficos estão com estoques cheios e não conseguem redirecionar os embarques com rapidez”, destacou Verruck. O temor agora é que esse excedente seja lançado no mercado interno, derrubando o preço da arroba do boi e gerando prejuízo em cadeia para toda a pecuária regional.
Em Goiás, o cenário não é diferente. Segundo nota da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), frigoríficos goianos também suspenderam parte das remessas aos Estados Unidos. O país representa 25% das exportações de carne bovina goiana — ficando atrás apenas da China — e é considerado um dos mercados mais estratégicos para o setor.
O governo estadual alerta que os efeitos não se restringem aos exportadores. Com o redirecionamento da produção para o mercado interno e outros países, os preços podem sofrer desequilíbrios significativos, atingindo tanto frigoríficos quanto produtores. Além disso, a pressão sobre a oferta de proteína animal impacta diretamente o custo dos grãos utilizados na ração, como milho e soja, ampliando a crise.
Para tentar conter os danos, o governo de Goiás aposta em reforçar a diplomacia comercial. Uma missão oficial ao Japão está em andamento e outros diálogos bilaterais estão sendo intensificados. A meta é abrir novos mercados para escoar a produção e evitar um colapso logístico e financeiro no setor.
O tarifaço de Trump, anunciado como parte de sua retórica protecionista, reacende um alerta vermelho para o agronegócio brasileiro: a dependência de poucos mercados estratégicos pode deixar produtores vulneráveis a decisões políticas externas. E, neste caso, o impacto foi rápido, direto e sentido nos frigoríficos, nos pastos e nos bolsos de milhares de trabalhadores.
Por Victor Santana Costa
Foto: Reprodução
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