
Foto: Internet
Enquanto escrevo esta matéria, estou sentada em minha cama, com o notebook no colo, ignorando todas as recomendações de boa postura. Já posso sentir minhas costas cobrando o preço desta decisão, mas, por enquanto, me importo mais com a sensação de conforto momentâneo do que com as futuras dores.
Mas não é somente durante o home office que busco esse aconchego que apenas minha cama parece ser capaz de proporcionar. Desde o início do isolamento social, com as opções de deslocamento reduzidas aos cômodos da casa onde moro, o quarto naturalmente se tornou o ambiente em que passo a maior parte do tempo. O que, por sua vez, fez com que o tempo que passo deitada aumentasse consideravelmente.
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Por isso foi impossível não ficar intrigada ao ouvir falar de clinomania pela primeira vez. Uma doença que se manifesta pela vontade incontrolável – e aparentemente inexplicável – de ficar deitada? Agora tudo faz sentido, certo? Errado. Quem dera fosse simples assim. Para começar, do mesmo modo que não se trata de mera preguiça, a clinomania também não é uma doença.
Relativamente novo na área médica, o termo (e suas variações clinofilia e dysania) nunca chegou a ser oficialmente classificado como um transtorno ou distúrbio, seja do sono ou psiquiátrico. Com algumas ressalvas, é possível dizer que na verdade se trata de um sintoma de outras doenças, conforme explicou a neurologista e especialista em Medicina do Sono. “Esse tipo de comportamento pode aparecer em vários transtornos do sono, mas também em um paciente que tenha depressão. É uma obsessão por dormir, relacionada ao desânimo e à falta de energia.”
Além da depressão, fatores como a falta ou o excesso de sono podem desencadear o que se considera ser a clinomania. Seu diagnóstico, portanto, é amplo e depende da investigação do histórico clínico do paciente. “Se alguém se queixa de dificuldades em manter ou iniciar o sono, ele tem mais características do paciente que tem insônia. Se ronca alto, está sonolento durante o dia, é obeso, pensamos numa apneia do sono. Já no caso de um paciente com tristeza, apatia, falta de energia, pensamos na parte de depressão”, exemplifica pneumologista e especialista em medicina do sono. Algumas pessoas com insônia, conta ele, podem ainda querer ficar na cama para compensar o tempo não dormido.
Identificar o quadro de base também é fundamental para definir quais os meios de tratamento que serão empregados e evitar a armadilha da automedicação, cujos perigos são alertados: “Muitas vezes as pessoas abusam de remédios estimulantes sem investigarem as causas do que sentem. Com isso, elas estão tratando o sintoma, mas não a doença, o que pode ter consequências. Dificilmente alguém apresenta uma vontade excessiva de ficar na cama sem ter alguma doença. Sempre há uma causa e é importante encontrá-la.”
Apesar de achar que é cedo demais para fazer afirmações sobre os impactos negativos do isolamento social no nosso sono, a psicóloga Mariana Luz diz que todas as incertezas e medos que podemos estar sentindo nesse período são capazes de gerar ansiedade, o que torna mais difícil ter um bom sono. “Tudo depende das escolhas das pessoas e de como elas lidarão com as emoções que as afetam. É possível fazer algumas escolhas que ajudam a dormir melhor”, explica. Ela recomenda a prática de ioga, exercícios ligados à respiração e meditação.
O mais importante, continua Luz, é estar sempre próximo de si mesmo, mantendo-se atento ao que sente e faz. “Assim, se seu corpo se comporta de maneira diferente, se percebe algo que não está lhe fazendo bem ou deixando desconfortável, procure ajuda adequada”, aconselha.
Fonte: Claudia.Abril
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