Embora ela possar ser comprada pronta, a criançada adora fazer o seu próprio slime em casa seguindo receitas que misturam produtos com substâncias químicas diversas, o que pode ser perigoso. A seguir, veja os riscos destas receitas caseiras de slime:
Slime caseiro: ingredientes
Na internet, é possível encontrar inúmeras receitas para fazer slime em casa.
Os materiais que mais aparecem na lista de ingredientes são: (cola branca, transparente, de isopor, etc.), tinta ou corante (acrílica, para tecido, corante alimentício, glitter, etc.), água boricada, bórax, bicarbonato de sódio, água oxigenada e produtos de higiene como shampoo, espuma de barbear, sabão líquido e detergente.
Onde está o perigo?
Água boricada e Bórax
O maior risco está no uso do bórax e da água boricada.
O bórax (borato de sódio) é a matéria-prima de alguns produtos de limpeza, sabão em pó para máquina de lavar, inseticidas e outros.
Para se ter uma ideia de seu potencial, no caso do uso em agrotóxicos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) o avalia como sendo de classe toxicológica II, isto é, altamente tóxico.
Por ser uma substância alcalina (com pH alto), ela tende a danificar a camada de gordura protetora da pele, comprometendo a barreira cutânea, especialmente em quem tem maior sensibilidade.
Este quadro pode causar o surgimento de eczemas (lesões que parecem feridas vermelhas, coçam e ardem) e dermatite de contato (reação que se assemelha a uma queimadura de pele e causa descamação). Estas reações, por sua vez, predispõem a criança a infecções, uma porta de entrada para condições mais sérias.
Já a água boricada é uma solução composta por ácido bórico, produto que contém o mesmo elemento presente no Bórax. Porém, por ser diluído em água, seu uso apresenta menor risco.
Em baixas doses, o ácido bórico costuma não oferecer risco à saúde. Como na água boricada ele está em pequenas quantidades, é uma opção mais segura, mas, ainda assim, há pessoas que têm a pele mais sensível e podem desenvolver os mesmos tipos de problema.
Com o bórax, a possibilidade de irritação cutânea é maior. E há ainda quem use o ácido bórico puro, o que seria ainda mais perigoso.
A água boricada ainda é um produto feito para usar no corpo humano – no tratamento de conjuntivite, por exemplo. O bórax não, por isso é infinitamente mais agressivo.
Outro grande risco de utilizar estas substâncias para fazer o slime é a possibilidade de inalação, ingestão ou absorção por meio das mucosas ou feridas na pele. Este, na verdade, é o maior problema.
Náusea, vômito, diarreia e cólica abdominal são alguns dos possíveis sintomas derivados da absorção do bórax e do ácido bórico pelo organismo.
Água oxigenada
A água oxigenada é outra grande preocupação. Ela tem aquele oxigênio que é chamado radical livre, que pode ser agressivo. Se passada na pele, pode causar dermatite de contato por irritante primário, que é a lesão causada pela própria substância, e não porque a criança tem predisposição. Não é para ficar brincando.
Bicarbonato de sódio
O uso de bicarbonato de sódio também é nocivo, já que ele é capaz de ressecar a pele, favorecendo irritação por contato em crianças que já possuam sensibilidade cutânea e até queimaduras.
Espuma de barbear, shampoo e detergentes
Há ainda um possível dano em manipular por muito tempo a espuma de barbear e detergentes. Por terem sabão, o pH é mais alto. Apesar de serem produtos feitos para usar no rosto, se a criança ficar brincando o dia inteiro com eles, pode dar o mesmo tipo de problema citado anteriormente, mas em menos grau.
Colas e corantes
As médicas concordam que todos os ingredientes usados no slime caseiro são potencialmente nocivos dependendo de quem os manuseia e como – até os aparentemente inofensivos, como colas e corantes.
Isso porque, além do risco de reação alérgica para as crianças que têm predisposição, o contato destes materiais com as mucosas pode gerar uma irritação mais séria. Isso pode ocorrer se o pequeno estiver brincando com o slime e levar a mão aos olhos, nariz e, principalmente, à boca.
As versões atóxicas destes produtos são a opção mais segura, mas, ainda assim, é preciso certificar-se de que a criança não tem alergia aos componentes e nem irá ingeri-los.
Riscos e problemas com o slime caseiro
1º: Crianças atópicas, alérgicas ou com pele sensível
Jovens que têm algum tipo de sensibilidade na pele ou predisposição a condições dermatológicas precisam tomar mais cuidado.
É o caso de bebês até 2 anos de idade, que ainda não têm a barreira cutânea formada e, por isso, não devem brincar com o slime; crianças com alergias de pele; aquelas que têm dermatite atópica, uma condição que deixa a pele avermelhada e ferida e tem relação com o ressecamento; pequenos com a pele sensível.
Nestes grupos, o contato com substâncias capazes de romper a proteção da pele – como é o caso da maior parte dos ingredientes, cujo pH é alto – é mais perigoso, já que eles estão predispostos a isso.
Crianças que têm dermatite atópica já têm uma barreira cutânea limitada. Se ficar brincando o dia todo com o slime, esfregando no corpo – rosto, pernas, braços –, vai ter o mesmo efeito que um adulto tem ao lavar a mão o tempo inteiro, pode dar dermatite de contato. As mãos têm uma queratina mais grossa, então a proteção é maior, mas tem criança que passa no rosto. Tem que imaginar que ela está brincando com sabão em pó, e sabão absorve gordura da pele e derruba sua barreira.
2º: Contato com mucosas e feridas
O segundo grande problema é que, mesmo em crianças que têm a barreira cutânea saudável, o produto pode entrar em contato com mucosas, que são áreas mais sensíveis, ou adentrarem o organismo por meio de ferimentos na pele, ainda que pequenos.
O ácido bórico da água oxigenada, por exemplo, é bastante absorvido por meio do trato gastrointestinal, mas, isso não ocorre na pele ilesa. Só acontece por meio de feridas e por contato com a mucosa [boca, olhos, nariz]. Aí, o efeito é mais tóxico.
Além disso, as dermatites de contato que podem ocorrer no corpo são ainda mais agressivas nestes lugares. O olho é uma mucosa bem sensível, então, uma lesão ali deixa a pálpebra vermelha, inchada e coçando, podendo evoluir para infecção. É mais perigoso ainda.
3º: Reações químicas desconhecidas
Além dos possíveis perigos dos ingredientes utilizados, o slime caseiro ainda tem uma desvantagem em relação ao industrializado quanto à segurança do produto final.
Isso porque é difícil prever as possíveis reações químicas que serão produzidas pela combinação dos componentes.
Ainda que os ingredientes não sejam tóxicos, não dá para afirmar que o produto final não será. No caso do industrializado, existe um controle, padronização e fiscalização, afirma, explicando que algumas reações, inclusive, podem liberar gases tóxicos.
No slime industrializado, as concentrações são fixas e ponderadas, com menor chance de reações, e as próprias embalagens vêm com modo de aplicação e luvas para prevenir o contato direto com a pele.
Existe receita segura de slime caseiro?
As misturas que não levam bórax, nem água oxigenada têm um nível de segurança maior, mas, ainda assim, não seria possível garantir que o produto final será inofensivo.
Em nota, o presidente do Departamento de Toxicologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dr. Carlos Augusto Mello da Silva, afirma que as famílias não devem permitir que as crianças fabriquem ou manuseiem gelecas, como o slime, contendo substâncias químicas em concentrações desconhecidas.
A manipulação de produtos químicos, como água oxigenada, ácido bórico, entre outros, no ambiente doméstico por crianças é perigosa e traz risco de intoxicação, que pode ser grave.
A preparação do slime caseiro não é realmente segura.
Pode brincar? Quais cuidados tomar?
O slime industrializado acaba sendo a opção mais segura para a criançada se divertir, e até mesmo essa versão demanda cuidados extras. Para qualquer tipo de slime, os especialistas recomendam:
- Permitir o manuseio da geleca somente com o uso de luvas;
- Orientar a criança a não esfregar o slime no corpo descoberto ou no rosto;
- Impedir o contato com mucosa, certificando-se de que a criança não leve a mão à boca, nariz ou olhos ou mesmo ingira o produto;
- Não permitir que a criança brinque com o slime sem um adulto por perto supervisionando;
- Evitar que o pequeno passe muitas horas manipulando o brinquedo, especialmente caso haja contato direto com a pele;
- Observar qualquer reação na pele ou sintoma diferente.
Como identificar que meu filho está tendo uma reação e o que fazer?
Fique atento a sinais de vermelhidão, coceira, inchaço e descamação.
Ao notar alterações, o primeiro passo é interromper o contato da criança com o slime. Depois, lave com água e hidrate a pele. Se os sintomas não melhorarem após 48 horas, procure um médico, pois pode haver necessidade de tratamento com medicamento.
Não melhorando após dois dias, o melhor é levar o filho ao médico, pois o quadro pode evoluir, dependendo da causa. Além disso, pode ser que os sintomas não tenham sido causados pelo slime, então, é melhor investigar.
Fonte: Vix.com
Foto Capa: Arquivo Pessoal
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