
Vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan (Foto: Wildes Barbosa)
Goiás corre o risco de ter de jogar fora 250 mil doses da vacina Coronavac que vencem no dia 30 de setembro e ainda não foram aplicadas pelos municípios. Esta será a primeira vez que o estado terá de fazer o descarte de imunizantes contra a Covid-19 porque a data de validade foi expirada. A Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) afirma que a situação se explica pela atual falta de adesão da população à vacinação, especialmente de crianças com 3 e 4 anos.
Há cerca de dois meses, o governo estadual enviou 346 mil doses de Coronavac para os municípios goianos. Desde então, apenas 96 mil foram utilizadas. Para que as 250 mil doses restantes sejam usadas, é necessário que 15,6 mil doses sejam administradas todos os dias até 30 de setembro. Entretanto, considerando todos os tipos de doses, o ritmo diário de aplicação em Goiás neste mês tem sido de 2,4 mil doses.
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Quando distribuiu as doses, o intuito da SES-GO era que elas fossem utilizadas para aplicar a primeira dose e parte da segunda nas 209 mil crianças com 3 e 4 anos que moram em Goiás. A imunização do grupo começou no fim de julho. “Achávamos que íamos ter até de pedir mais doses para o Ministério da Saúde”, destaca a superintendente de Vigilância em Saúde do estado, Flúvia Amorim. Entretanto, até nesta quarta-feira (14), apenas 25,5 mil primeiras doses e 4,7 mil segundas doses tinham sido administradas nesse público.
Flúvia ressalta que Goiás não sabe quando novas doses de Coronavac serão enviadas pelo Ministério da Saúde. Atualmente, este é o único imunizante que pode ser usado para vacinar crianças com 3 a 4 anos. “É uma situação complexa, pois quando olhamos a proporcionalidade de internações entre as crianças, as que têm 4 anos ou menos são as mais afetadas.”
Descarte
A quantidade exata de doses que poderão ser descartadas por conta da data de validade só será conhecida a partir de outubro. “Os municípios têm de cadastrar cada uma das doses que vão jogar fora no sistema do Ministério da Saúde. Assim, teremos o controle exato do que foi jogado fora”, aponta a superintendente.
As doses vencidas serão enviadas para a SES-GO. Só então, elas serão descartadas. “Como se trata de lixo biológico, precisamos ter um cuidado especial”, esclarece Flúvia. Entretanto, cidades que possuem contratos com empresas que fazem o tratamento de lixo biológico poderão fazer o próprio descarte. “Nesses casos, iremos só acompanhar.”
Tentativas
A superintendente aponta que ao longo dos últimos dois meses, o estado e os municípios goianos desenvolveram várias ações na tentativa de aumentar a adesão da população a vacinação, especialmente de crianças, como o ‘Dia D da multivacinação’ em 20 de agosto. “Além disso, tivemos salas de vacinação abertas em horários alternativos, imunização itinerante, vacinação dentro das escolas e a busca ativa da população”, enfatiza.
Flúvia acredita que o que aconteceu foi que a população deixou de temer se infectar com a Covid-19, com a redução do número de casos, mortes e internações. “A sensação de risco diminuiu. É claro que estamos em um cenário muito melhor. Entretanto, as pessoas precisam compreender que isso só foi possível graças a ampla vacinação da população. As coberturas não podem cair”, alerta.
Cenário positivo pode mudar
O cenário epidemiológico da Covid-19 em Goiás apresenta queda de casos e óbitos há pelo menos cinco semanas seguidas (confira o quadro), conforme a tendência da maioria dos estado brasileiros. Entretanto, de acordo com a superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim, isso não faz com que a necessidade de vacinar a população contra a doença deixe de existir. “Pelo contrário. Manter todas as doses em dia é a maneira que temos de fazer com que este cenário se mantenha por mais tempo”, enfatiza.
Ela destaca que as vacinas atuais protegem as pessoas de casos graves e óbitos. Então, aqueles que não estão vacinados ou estão com doses em atraso, ainda estão em risco. Atualmente, apenas 12% das crianças com 3 e 4 anos já receberam a primeira dose da vacina e menos de 1% a segunda. Além disso, existem apesar de 2,6 milhões de pessoas (38% da população do estado) já terem tomado a primeira dose de reforço, outras 2,4 milhões estão com ela em atraso.
Em um cenário de uma nova onda da doença, este grupo pode acabar gerando uma pressão no sistema de saúde. “Caso ocorra uma nova onda, sem dúvida nenhuma essas pessoas estarão mais suscetíveis a se infectar e desenvolver complicações que podem resultar em morte”, explica.
Além disso, a cultura de uma baixa adesão a vacinação também é prejudicial no que diz respeito a um futuro controle do aumento de casos. No momento, a ômicron é a variante predominante em Goiás. Os imunizantes disponíveis não são tão eficazes no que diz respeito ao controle da disseminação desta cepa. “As vacinas que usamos foram feitas para combater a variante encontrada em Wuhan, na China, e são eficazes no que diz respeito a prevenção de formas graves e óbitos pela doença. Porém, já temos laboratórios como a Pfizer e a Moderna que estão atualizando as vacinas, o que contribuirá para a redução de casos. Todavia, é preciso que a população entenda a necessidade de continuar se vacinando.”
Fonte: O Popular
Foto: Wildes Barbosa
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