A BYD tem usado sua frota de navios para nacionalizar milhares de carros antes dos aumentos previstos nas tarifas de importação. A ação gerou reação da Anfavea, que pressiona o governo por medidas mais rígidas.

A montadora chinesa BYD tem causado desconforto entre as fabricantes de veículos instaladas no Brasil ao utilizar uma estratégia ousada, porém legal, para evitar os impactos do aumento gradual dos impostos de importação. Com o uso do navio próprio BYD Explorer 01, a empresa tem antecipado a nacionalização de milhares de carros elétricos e híbridos, formando estoques robustos antes das novas alíquotas entrarem em vigor.

Em abril de 2024 e novamente em fevereiro deste ano, a BYD trouxe ao país cerca de 5.500 veículos em cada viagem, utilizando o navio com capacidade para mais de 7 mil unidades. Com isso, conseguiu manter os preços competitivos, ao escapar das alíquotas mais altas que começaram a ser aplicadas em janeiro e terão nova elevação em julho deste ano.

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A ação irritou a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), que acusa a estratégia de gerar um desequilíbrio no comércio automotivo nacional. A entidade alega que a montadora chinesa já teria cerca de 40 mil carros estocados no Brasil, o que comprometeria os investimentos e a geração de empregos na cadeia produtiva local.

Diante disso, a Anfavea solicitou ao governo federal a antecipação da alíquota de 35% sobre veículos eletrificados, prevista para julho de 2026, para já valer imediatamente. A associação argumenta que, diferentemente do Brasil, países como Estados Unidos e Canadá aplicam tarifas de até 100% sobre carros importados, enquanto a Europa impõe taxas de até 48%.

Apesar das críticas, especialistas ouvidos por veículos do setor afirmam que a BYD não comete nenhuma ilegalidade. O imposto de importação é cobrado no momento da entrada do produto no território nacional, conforme estabelece a legislação brasileira, independentemente de quando o veículo será vendido. Assim, a montadora aproveita o intervalo entre os aumentos tarifários para reforçar sua presença no mercado.

Para o consultor automotivo Cassio Pagliarini, da Bright Consulting, a BYD está apenas jogando conforme as regras disponíveis. Ele afirma que, se estivesse na posição da empresa, faria o mesmo: nacionalizaria o máximo de veículos possível antes de cada reajuste. Ricardo Bacellar, também especialista no setor, reforça que essa prática é comum na indústria mundial e não é exclusividade do setor automotivo.

Bacellar destaca ainda que o caso da BYD vai além do uso do navio e reflete uma transformação global da indústria chinesa, que se tornou líder não apenas na fabricação de veículos, mas também na cadeia de suprimentos, especialmente no fornecimento de baterias. Além disso, a modernização dos portos na China e a aquisição de frota própria de transporte contribuem para reduzir custos logísticos e garantir vantagem competitiva.

A BYD planeja iniciar sua produção local na cidade de Camaçari, na Bahia, ainda em 2025. No entanto, analistas acreditam que a empresa enfrentará desafios para manter sua competitividade, considerando o alto custo de produção no Brasil, a complexidade tributária e as exigências de pós-venda, como disponibilidade e preço de peças de reposição.

Enquanto isso, com o uso estratégico da logística global e dentro das regras vigentes, a montadora chinesa segue ocupando espaço no mercado nacional, deixando as rivais em alerta e pressionando por mudanças regulatórias.

Por Victor Santana Costa
Foto: Reprodução
Jornalismo Portal Pn7

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