A geração mais rejeitada da história? Jovens lidam com fracassos em série e sentem o peso de um mundo ultracompetitivo

A geração mais rejeitada da história? Jovens lidam com fracassos em série e sentem o peso de um mundo ultracompetitivo

Jovens sob pressão: rejeição em série e seus efeitos

A atual geração de jovens adultos pode estar enfrentando um desafio inédito na história moderna: lidar com níveis recordes de rejeição. Essa é a tese defendida pelo jornalista americano David Brooks, em artigo publicado no The New York Times, após conversas com jovens que relatam sentir-se constantemente preteridos — seja em processos seletivos para universidades, oportunidades de trabalho, relacionamentos amorosos ou até mesmo na busca por crédito para adquirir uma casa.

Segundo Brooks, o mundo se tornou mais competitivo em praticamente todas as esferas. Ele observa que estudantes hoje se candidatam a dezenas de universidades para conseguir vaga em apenas uma, um reflexo da escassez crescente de oportunidades. Esse padrão, afirma o jornalista, se repete na vida adulta: no mercado de trabalho, na vida financeira e até nos relacionamentos, onde a rejeição tornou-se quase inevitável.

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O impacto psicológico da rejeição

O artigo de Brooks cita o psicólogo social Roy Baumeister, pioneiro nos estudos sobre os efeitos da rejeição. Em suas pesquisas, Baumeister constatou que ser rejeitado não apenas causa sofrimento, mas muda temporariamente o funcionamento emocional e cognitivo das pessoas.

A primeira reação, explica o psicólogo, é uma espécie de “entorpecimento emocional” — um estado em que o corpo desativa as sensações para proteger-se da dor. No entanto, esse torpor reduz a empatia, aumenta a agressividade e compromete o autocontrole. “As pessoas se tornam menos prestativas, mais antissociais e demonstram menos simpatia pelos outros”, afirma Baumeister.

Os estudos do pesquisador também indicam que indivíduos rejeitados apresentam pior desempenho intelectual e acadêmico, além de menor tolerância à dor física. Ele sugere que experiências de rejeição na infância podem esgotar os sistemas de defesa emocional, tornando os adultos mais vulneráveis a sofrimentos futuros.


A rejeição em escala social

Baumeister argumenta que, quando a rejeição se torna generalizada, seus efeitos extrapolam o nível individual e atingem toda a sociedade. Grupos que se sentem excluídos tendem a ser mais agressivos, menos colaborativos e menos interessados em contribuir para o bem comum. Além disso, a sensação coletiva de rejeição pode enfraquecer o desempenho intelectual e cívico, criando um ciclo de desmotivação e distanciamento social.

A hipercompetição é um dos fatores que alimentam essa dinâmica. O psicólogo cita o conceito de “superprodução de elites”, do historiador Peter Turchin, segundo o qual há cada vez mais pessoas qualificadas competindo por um número limitado de posições de destaque. “Há mais diplomas, mas não necessariamente mais empregos”, observa Baumeister. “Isso significa mais rejeições — e mais frustração.”


Rejeição no amor e na vida cotidiana

A rejeição também se manifesta nas relações pessoais. Baumeister destaca que os sistemas de encontros online, embora ampliem as possibilidades de contato, favorecem conexões superficiais e descartáveis, o que aumenta a frequência de rejeições. Esse padrão, segundo ele, afeta a autoestima e a confiança emocional, principalmente em relacionamentos amorosos não correspondidos.

“O golpe mais comum é ouvir: ‘Não é você, sou eu’”, afirma o pesquisador. “Mas, para quem é rejeitado, o sentimento é de não ser bom o suficiente. Esse tipo de dor costuma desaparecer apenas quando a pessoa é aceita novamente, seja em outro relacionamento ou em outra esfera da vida.”


Como lidar com a rejeição

Apesar dos efeitos nocivos, Baumeister acredita que a rejeição pode ser administrada. Ele recomenda insistir e buscar novas oportunidades como forma de recuperação. “A cura para a rejeição é ser aceito em outro lugar”, afirma. “Na ciência, submeto muitos artigos e vários são rejeitados. Mas quando um é aceito, você para de se sentir mal pelas rejeições anteriores.”

Essa lógica, segundo o psicólogo, vale para todas as áreas da vida. “Todo mundo é rejeitado. Faz parte do jogo. O importante é entender que o sentimento é temporário — e que a aceitação, quando vem, renova nossas forças para seguir tentando.”

Por Gessica Vieira
Foto: Reprodução
Jornalismo Portal Pn7

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Gessica Vieira

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